Em nossos tempos, todos somos alimentados pela crença de que tempo é dinheiro e ensinados a administrá-lo como se fizéssemos uma contabilidade financeira de todos os momentos da nossa vida. Talvez, sim, ela seja uma moeda, mas uma cujo valor não pode ser calculado.
Existem relatos de um episódio da vida de Santa Teresa de Calcutá segundo os quais, certa vez, as Irmãs da Caridade, vendo-se muito atarefadas, pediram-lhe que reduzisse o seu tempo de oração para que pudessem dar conta de todas as suas obrigações.
Elas passavam o dia inteiro ocupadas com o extenuante trabalho de auxílio aos pobres e tinham ainda de cumprir uma severa rotina de orações, que a elas parecia um obstáculo para as suas tarefas.
A Madre Teresa decidiu então aumentar o tempo de oração das irmãs, dizendo-lhes que deveriam rezar ainda mais quando estivessem muito ocupadas.
Muitas vezes, nós nos encontramos em uma rotina intensa, com incessantes demandas de trabalho, de cuidado da família, da casa, preocupações financeiras, etc., e parece não sobrar tempo para nada além disso.
Assim, o estudo é deixado de lado e o tempo que Deus nos pede para Ele é ignorado.
Essa, inclusive, é uma objeção bastante recorrente em relação aos estudos propostos pelo Instituto Borborema na nossa Formação. Muitos, ao se depararem com o nosso modelo educacional, mesmo enxergando nele algum valor, desistem antes de começar ou acabam desprezando-o, como algo de menor importância.
Justificam que trabalham muito, que os estudos da universidade tomam todo o seu tempo, ou que estão se preparando para um concurso público e não podem desviar a atenção para outra coisa.
Observando o modelo de vida contemporâneo, é até compreensível que pensem assim. E como não seria?
Quantos de nós crescemos acreditando que o estudo serve apenas para nos garantir um bom trabalho, um bom salário? Mais que isso: quantos de nós crescemos ouvindo a famosa frase “tempo é dinheiro”? No sentido de que, se não estamos ganhando dinheiro ou nos preparando de alguma forma para isso, estamos desperdiçando tempo.
Se a nossa atenção está na vida da matéria, se os nossos olhos estão voltados apenas aos bens que o dinheiro pode comprar, como poderíamos encontrar tempo para algo além do dinheiro e do trabalho?
Mas a verdade é que, não: tempo não é dinheiro. E, sim, mesmo na rotina mais cheia, mesmo em meio às mais diversas ocupações e demandas circunstanciais, nós temos tempo de sobra.
Temos tempo para a oração; tempo para o estudo sério e dedicado; tempo para dar atenção e carinho aos nossos filhos… temos tempo para viver — verdadeiramente.
E tudo o que precisamos é encontrá-lo.
Como disse o mago Gandalf a Frodo, no livro A Sociedade do Anel: “Tudo o que temos que decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado”.
Diferentemente do que se propaga em nossos tempos superficiais e materialistas, o tempo, na verdade, é a moeda que Deus nos dá para trocarmos pela Eternidade.
Ele concedeu-nos a vida presente e todos os meios de que precisamos para alcançar a eterna, como é o caso da inteligência. Todas as outras instâncias da vida, as obrigações cotidianas, os deveres civis, etc. são elementos que devem servir e adequar-se a isso, e não o contrário.
Portanto, se não estamos encontrando tempo para isso, que é o mais primordial, é sinal de que há uma falha na nossa hierarquia de valores e prioridades.
O tempo existe, nós o temos e precisamos distribuir todas as partes da nossa vida dentro dele.
Fazendo o uso adequado dele, dedicando-nos àquilo que nos é mais essencial enquanto seres humanos, sem, contudo, abrir mão das nossas vidas temporais, ao invés de perdemos tempo, como se ele fosse dinheiro, nós começamos a ganhá-lo para podermos, enfim, trocá-lo pela Eternidade.