Vivemos em um mundo que considera a ciência como única fonte de conhecimento real, como sinônimo de razão e inteligência. O que por si já seria um problema, torna-se ainda mais grave pela situação atual daquilo que estamos chamando de Ciência. A versão moderna de ciência é tão diferente daquilo que os antigos convencionavam como “scientia” que deveríamos inventar um novo nome para esta prática atual.
Para entender o que acontece nos dias atuais, precisamos estudar um pouco origens históricas e teóricas da Ciência Moderna através do estudo dos seus “fundadores”. Para a missão de explicar um pouco sobre os problemas da ciência moderna, convocamos o professor Fábio Florence, que gravou em nosso estúdio um curso temático com 7 aulas – agora disponível em nossa plataforma digital.
O presente curso, dividido em 7 aulas, tem como objetivo apresentar ao público leigo uma visão introdutória sobre os principais problemas despertados pelo pensamento e pela prática da ciência moderna, não somente do ponto de vista teórico, mas sobretudo das repercussões que a forma atual de se fazer ciência provoca no conjunto da sociedade humana, com especial destaque para os problemas de cunho moral e para a pedagogia das disciplinas científicas. Para cumprir nosso propósito, oferecemos um breve panorama da história do pensamento científico, colocando em evidência os momentos críticos em que a formulação do ideal de ciência sofreu transformações decisivas. Ao final de nosso percurso, delinearemos de maneira breve um programa de estudos que esperamos servir de incentivo para pensar a ciência de maneira humana e como atividade dotada de sentido.
A Ciência como vocação.
Origens do pensamento científico.
A separação entre os diversos ramos do conhecimento.
Os principais elementos que conduziram à crise do pensamento antigo e medieval.
Os princípios do pensamento científico moderno.
O projeto positivista de unificação das ciências.
O fracasso do projeto positivista.
Nesta primeira aula, examinaremos um dos textos mais famosos sobre os desafios do trabalho científico na modernidade, a saber, A Ciência como vocação, conferência proferida em 1919 pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). No conjunto de reflexões elaboradas por Weber, colocaremos em destaque sobretudo o caráter profundamente especializado, fragmentário e transitório do pensamento científico moderno, que se desenvolve, de acordo com o autor, num mundo marcado pela racionalização e pelo “desencantamento”.
Esta aula está disponível gratuitamente em nosso canal no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=YQ5Df2lLZ5E
Para compreender o quadro delineado por Weber em 1919, transitaremos para as origens do pensamento científico, mostrando como os antigos gregos elevaram práticas como a agrimensura egípcia ao nível de um conhecimento profundo, universal e necessário das realidades presentes no mundo. Concluiremos nosso panorama com uma breve explicação sobre a divisão das ciências elaborada por Aristóteles e com o ideal de ciência como contemplação da ordem do universo.
Tomando como guia os instigantes estudos de Alexandre Koyré (1892-1964) sobre a história do pensamento científico, discutiremos a separação entre os diversos ramos do conhecimento no sistema das ciências elaborado pelos antigos gregos, dando especial destaque para a teoria dos lugares e movimentos naturais. Com isto, destacaremos a noção grega de explicação racional de fenômenos aparentemente desordenados e mostraremos como esse ideal acarretou uma série de problemas e dificuldades para conciliar os campos da física e da astronomia.
Nesta aula traçaremos um panorama dos principais elementos que conduziram à crise do pensamento antigo e medieval, colocando especial ênfase nas críticas à filosofia aristotélica elaboradas por autores renascentistas (como Francesco Petrarca). Nesse contexto, mostraremos que a cultura renascentista cria uma simbiose entre ciência, técnica e magia, ampliando infinitamente a ideia de possibilidade, e que desta combinação surgem os elementos fundantes da nova ciência, que vigora até os nossos tempos.
Nesta aula buscaremos esboçar um quadro dos princípios em que se assenta o pensamento científico fundado por Galileu e Descartes, e que tem seu ápice em Isaac Newton. Destacaremos aqui a visão de um universo regido por leis matemáticas e o ideal de elaboração de um sistema de ciências baseado no determinismo mecânico universal.
Nesta aula esboçaremos o projeto positivista de unificação das ciências com base no ideal que remonta à física de Newton. Discutiremos, também, a proposta de Augusto Comte de criação de uma nova aristocracia espiritual de cientistas sociais e de uma nova religião baseada na ciência.
Na aula de encerramento do curso, mostraremos o fracasso do projeto positivista de construção de uma visão unificada de ciência tendo como base o modelo físico-matemático; retomaremos, também, o quadro traçado por Max Weber na aula inicial, acompanhado de uma proposta concreta de resgate da visão antiga de ciência fundada nos primeiros princípios do conhecimento, mas sem ignorar as importantes conquistas do pensamento científico moderno.