O curso aborda a Revolução Francesa de um ponto de vista da ciência política, e não propriamente da história. Dentro desse recorte, seguimos uma tradição particular de investigação, que tem encarado os fenômenos políticos modernos com base na fenomenologia da religião, e que foi muito bem sintetizada pelo filósofo político John Gray em seu livro Missa Negra: Religião Apocalíptica e o Fim das Utopias: “a política moderna é um capítulo na história da religião”.
Partiremos da filosofia do Iluminismo e mostraremos como essa ideologia, a religião política dos philosophes, constituiu-se como uma espécie de rival religiosa do Cristianismo. Sendo uma continuação do milenarismo medieval, e, portanto, também ela uma sorte de heresia cristã, a religião política dos philosophes foi a primeira da história a manifestar o espírito milenarista – que busca substituir a idéia de graça divina pela de práxis revolucionária – em termos secularistas e anticristãos. Logo, se a política moderna é um capítulo na história da religião, como resumiu John Gray, a Revolução Francesa será vista aqui especificamente como um capítulo na história do Cristianismo.