A Igreja vive uma crise pastores, e nós, como ovelhas, encontramo-nos perdidos, buscando aqueles cuja voz reconheçamos, que andem à nossa frente, conduzindo-nos através da porta do aprisco para a pastagem. Mas como podemos encontrá-los em meio a tantos salteadores?
“De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém — nós ou um anjo baixado do céu — vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.”
(Gl 1, 7-8)
No último texto que publicamos no blog, falamos da crise que enfrenta a Igreja e de como a religião instituída por Cristo sobre a fé de São Pedro parece estar desmoronando ao nosso redor, sendo consumida pela doença do relativismo e da secularização.
Enquanto ela habita no mundo um deserto hostil que lhe ataca por todos os lados a fim de fazê-la ruir, muitos daqueles que deveriam cuidar em preservá-la, conservá-la como um refúgio seguro para almas desterradas, estão deixando-se seduzir pelas ilusões do deserto, tornando-se, eles mesmos, causa de perdição.
Assim, pastores têm abandonado o Evangelho que receberam, abraçado doutrinas estranhas e professado uma fé diversa, levando suas ovelhas à confusão.
Sabemos que, quanto a isso, não há novidade. Maus e falsos pastores, propagadores do erro e da desordem, sempre tivemos — e registros não nos faltam.
São Paulo, por exemplo, em sua epístola aos gálatas, se volta duramente aos cristãos da Galácia para advertir-lhes da presença de falsos doutores que andavam entre eles a semear confusão, pregando um evangelho de mentira.
“Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!”
(Gl 1, 9)
Sempre se soube que qualquer um que se apresente como portador de uma verdade diferente daquela que fora revelada por meio das Escrituras e da Tradição, e guardada pelo sagrado Magistério ao longo destes dois mil anos não tem parte com a Igreja de Cristo.
Mas agora isso parece estar esquecido.
Quantos exemplos não conhecemos de sacerdotes que utilizam o púlpito somente para pregar doutrinas estranhas e absurdas, por vezes opondo-se abertamente ao credo que professamos, ridicularizando os sacramentos, banalizando o Santo Sacrifício… e que seguem causando escândalos livremente e sem reprimendas?
Ao mesmo tempo, quantos não são os bons padres e bispos que dedicam-se inteiramente à missão com a qual foram instituídos, conduzindo as almas sob sua tutela pelos caminhos da verdadeira vida, propagando a verdade e condenando o erro, e que são perseguidos, atacados e até condenados ao ostracismo e à excomunhão formal?
Não à toa, a muitos não restam dúvidas de que a crise pela qual estamos passando nestes tempos seja a maior na história da Igreja e tudo o que nos sustenta e sempre se lutou para conservar pareça estar realmente ruindo.
Uma crise de fala: as ovelhas querem e precisam ouvir, mas carecem de pastores que lhes falem.
O historiador e filósofo alemão, Eugen Rosenstock-Huessy, em seu livro A origem da linguagem, nos dá uma definição de crise que muito ilustra o que temos enfrentado.
Ao tratar da crise como uma doença da fala, ele diz que, nela, “nós não achamos ninguém para nos falar”, que, “na crise, poucas pessoas estão dispostas a dar ordens para falar com poder original do discurso, com o poder de direção”.
E define: “A crise consiste em não dizer aos amigos o que fazer”.
Ou seja, a crise se dá quando há uma massa ou uma comunidade de pessoas que precisam de uma orientação, isto é, necessitam que alguém lhes conduza, lhes fale o que devem fazer, e simplesmente não há quem fale.
De novo: essa descrição é feita no contexto da crise como sendo uma doença da fala. Mas não se assemelha, em muito, com o que temos passado na Igreja atualmente?
Claro, pois não é essa crise geral também — talvez, sobretudo — uma crise de pastores?
No Evangelho de São João, vemos Nosso Senhor dizer que as ovelhas reconhecem a voz do seu pastor:
“Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim.”
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.”
(São João 10, 14 e 27)
Mas e quando os pastores falam com uma voz que não reconhecemos? E quando emitem palavras que nos desorientam, fazendo com que nos sintamos perdidos, como ovelhas sem pastor?
Como descrito por Rosenstock-Huessy, as ovelhas querem e precisam ouvir, mas carecem de pastores que lhes falem.
Há uma crise de pastores, e ela está em pleno curso.
No Catecismo da Doutrina Cristã, na questão 118, vemos que:
“Jesus Cristo instituiu a Igreja para que os homens encontrassem nela a direção segura e os meios de santidade e de salvação eterna.”
Para isso, com autoridade divina, constituiu a Igreja sobre três múnus: ensinar, governar e santificar. E a esses três poderes está indissociavelmente ligada toda hierarquia eclesiástica — os padres, os bispos e o próprio papa.
Então cabe a todos os pastores o dever de ensinar a fé e a moral verdadeiras; de governar, a fim de conduzir os fiéis de maneira segura; e de santificar, tendo, para isso, também o poder de conferir os sacramentos que Deus instituiu para a nossa salvação.
Mas o que temos visto é que nossos clérigos, em boa parte, se não desconhecem, ignoram completamente tais deveres e deles fazem pouco caso.
No lugar da fé e da moral verdadeiras, propagam uma fé e uma moral fabricada — por si ou por terceiros; pautam seus discursos, sermões e escritos segundo interesses escusos próprios ou suscitados pelas ideologias de que são seguidores.
Não demonstram preocupar-se em santificar sequer a si mesmos, tampouco os fiéis que deveriam assistir.
E, assim, não conduzem ovelha alguma senão para fora da Igreja — não à toa suas assembléias encontrem-se cada vez mais vazias.
Onde, então, podemos encontrar a “direção segura e os meios de santidade e salvação eterna”?
A quem recorrer, quando não há quem nos fale “com o poder de direção”?
Veja, não vá o mais precipitado dos leitores crer que estamos empreendendo um tipo de ginástica argumentativa para incentivar a adesão a alguma posição sedevacantista — nós mesmos tampouco aderimos.
Agora, também não podemos assentir a malabarismos retóricos para defender os erros e os abandonos praticados por parte de nossas autoridades eclesiásticas.
Há, sim, uma crise de pastores, e ela está em pleno curso.
Como ovelhas, encontramo-nos perdidas, buscando — como disse Nosso Senhor no mesmo capítulo 10 do Evangelho de São João, que já citamos — aqueles cuja voz reconheçamos, que andem à nossa frente, conduzindo-nos através da porta do aprisco para a pastagem.
Sim, eles existem e chamam-nos com voz sincera à sua condução. Mas há, espalhados entre eles, muitos salteadores, pelos quais não podemos nos deixar confundir.
Precisamos, então, saber como discerni-los e conhecer a conduta verdadeiramente católica diante desses e daqueles para que não nos percamos por caminhos errados.
É exatamente por essa razão que lançaremos, no próximo dia 08 de agosto, o curso “Crise na Igreja: Como podemos agir nesses tempos difíceis”, com os professores Mateus Mota Lima e Caio Perozzo.
E a live de lançamento será uma boa oportunidade para aqueles que notam a gravidade do assunto e desejam verdadeiramente saber qual a postura e as ações mais prudentes para estes tempos difíceis.
Para assistir à live e acompanhar as nossas comunicações a respeito do curso, faça a sua inscrição gratuitamente, através do link abaixo: