O que significa o fim dos tempos?

A simples menção ao fim dos tempos é suficiente para levar muitas pessoas à exasperação e ao desespero. Para os mais descrentes, isso não passa de uma ilusão; para os mais exasperados, o fim está próximo e os sinais são abundantes. Mas, afinal, o que significa o fim de tudo?

Fim dos tempos. Cavaleiros do Apocalipse.

 

“O fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, prudentes e vigiai na oração.” 

(1 Pd. 4, 7)

 

O mundo vai acabar um dia? Haverá mesmo um fim dos tempos? Ele está próximo?

Avisos, sinais, profecias… Ao longo da história, as perguntas acima alimentaram inúmeras discussões e inspiraram todo tipo de interpretações.

Nos dias de hoje, esse parece ser um assunto que vem deixando as pessoas cada vez mais exasperadas e levando-as a perder precioso tempo em busca de sanar vãs curiosidades ou tratando das últimas do mundo como se fossem as notícias e fofocas mais quentes do momento. 

Somando-se a isso as catástrofes naturais, as guerras, conflitos internacionais e o alarmismo científico, pronto: o desespero está completo. 

Mas há fundamento nessas questões? O que significaria para nós o fim do mundo e dos tempos?

 

Relógio do Juízo Final

“Doomsday clock” ou “relógio do juízo final”. Marcador criado por cientistas e atualizado anualmente para alertar sobre a proximidade do fim do mundo.

 

Observando as Sagradas Escrituras, os avisos do próprio Cristo de que o Seu Reino está próximo, as profecias dos justos do Antigo Testamento, as palavras dos santos doutores, as observações dos filósofos pagãos e até as crenças de outras religiões, é seguro considerar que, sim, este mundo e este tempo terão um término. 

 


…o mundo teve sua manhã fresca, terá sua tarde abrasiva, seu início de noite e, enfim, também encontrará as trevas.


 

A natureza, em razão da estabilidade de seus ciclos, engana os olhos mais desatentos com uma ilusão de ininterruptibilidade: o dia sempre nasce com o sol da manhã incendiando os céus de pureza e frescor; ao meio dia, o céu torna-se forte e abrasivo; depois, a luz vai caminhando para o seu ocaso até à noite, que nos absorve em plenas trevas. E tudo recomeça com uma nova aurora.

Nas estações do ano, uma permanece seguindo a outra continuamente: todo outono sucede um verão e inexoravelmente encontra seu inverno. O mundo segue girando, os anos passam, e a nós nada parece que vai acabar.  

Contudo, quando observamos bem a realidade que nos circunda para além dos ciclos ininterruptos, não temos dificuldade em perceber que todas as coisas no mundo material tendem a surgir, crescer, desenvolver-se, degenerar-se e morrer.

Ainda assim, o mundo continua. Vemos o tempo corroer tudo, as gerações passarem, mas o mundo permanece inteiro, dando-nos a impressão de que ele nunca terá fim.

 

O fim do mundo, no filme 2012

Cena do filme 2012, Roland Emmerich (2009)

 

Mas, ora, se o mundo é parte da natureza e nela tudo encontra seu desfecho, faz todo sentido pensar que ele, de igual modo, teve a sua manhã fresca, terá sua tarde abrasiva, seu início de noite e, enfim, também encontrará as trevas. 

Portanto, sim, o mundo e os tempos têm um término. 

Só que ainda mais evidente e certo do que o fim do mundo e de todas as coisas, que não nos é dado a conhecer plenamente, é o encerramento daquele bem que nos é mais importante e caro: a nossa própria vida. 

A nossa existência como conhecemos, humana e individual, vai acabar — e vai acabar neste mundo.

Mesmo que não vivamos o suficiente para contemplar fisicamente o mundo em seu último ato, o fechar das cortinas de toda a existência natural, a visão do nosso próprio desfecho não nos será furtada.

Esse fim, sim, é certo, próximo e iminente.

 


…o nosso mundo e o nosso tempo têm uma finalidade, um propósito a realizar.


 

Além disso, em se tratando de assuntos escatológicos, a maioria das pessoas tende a restringi-los, associá-los a eventos portentosos, considerando imageticamente apenas o término, o encerramento, a conclusão do mundo como conhecemos.

O fim do mundo ou dos tempos pode ter, sim, essa acepção de término, no sentido que esta existência um dia será finalizada. Como já dissemos aqui e também como os professores Caio Perozzo e Raphael Tonon demonstraram na live Estamos próximos do fim dos tempos?, essa não é uma coisa nada absurda e deve, de fato, ser tomada como verdadeira.

No entanto, o que se costuma ignorar é que a palavra fim não compreende somente o desfecho de algo, mas também a sua finalidade.

Daí que, quando falamos em fim do mundo, devemos considerar não só que ele há se extinguir-se algum dia, seja próximo ou não, mas também que ele tem uma finalidade, um propósito a cumprir.

E, talvez, ele já esteja de fato se encaminhando para alcançá-lo.

Por conseqüência, esta vida tem também uma finalidade própria.  E o limite cronológico do mundo natural e também o da nossa vida particular nos apontam que temos um tempo limitado para que a nossa individualidade, a nossa personalidade, nossa alma entre em sintonia com essa mesma finalidade. 

Todos temos uma vocação geral à perfeição; ao mesmo tempo, cada indivíduo possui um chamado específico e, em função dele, um modo particular de alcançar essa tal perfeição. 

Portanto, numa escala geral, o nosso mundo e o nosso tempo têm uma finalidade, um propósito a realizar. E, na escala humana individual, também há um tempo para que cumpramos certa finalidade.

 

O juízo final

O Juízo Final, de Fra Angelico. Basilica di San Marco, Florença, Itália.

 

No Evangelho de São Mateus (24, 42-44), a respeito de Sua última vinda, vemos Nosso Senhor dizer:

 

“Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.”

 

Essa e tantas outras passagens das Escrituras, bem como os ensinamentos dos santos doutores, deveriam nos mostrar que o Cristo, Senhor de todas as coisas, nos apontou sobre o fim dos tempos tudo aquilo que julgou útil para que pudéssemos encontrar a nossa própria finalidade neste mundo.

 


Este é o verdadeiro fim dos tempos, do mundo e da nossa vida…


 

Não é à toa que, na Salve Rainha, nos referimos ao mundo como um exílio e um vale de lágrimas, pois esta existência é como um mar bravio no qual se perde e afunda o navio, e nós, como náufragos, estamos nela de passagem, em busca da Pátria definitiva. 

E, se estamos aqui de passagem, não parece razoável ignorar que um dia tudo encontrará seu fim, porque, afinal, precisamos estar todos juntos novamente em algum momento.

Mas o que determinará aqueles que, entre todos os viventes, estarão real e definitivamente juntos, resgatados deste naufrágio, seguros na Pátria Celeste, não é o fim do mundo, e sim como cada um encontrou sua finalidade individual.

 

“Então, o Rei dirá aos que estão à direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34).

 

Essas serão as palavras ouvidas por aqueles que vivem na graça, pela graça e com a graça e, tendo completado a carreira, encontrarão, por fim, o prêmio da bem-aventurança.

Eis aí a finalidade deste exílio, deste vale de lágrimas. Este é o fim último do mundo, dos tempos e da nossa vida — humana e individual. 

Se tememos, se nos aterrorizamos ante a idéia do término de tudo, é sinal de que, no interior do nosso coração, há uma sede por algo que está para além deste desterro. Daí que o tempo seja disposto ao nosso usufruto como uma moeda para que possamos “trocar” pela eternidade.

Por isso, é benfazejo que o mundo e o tempo realmente encontrem seu término e que tudo seja abraçado pela eternidade, porque só ali, aquela sede poderá ser saciada.

Não devemos, contudo, esperar sinais portentosos, cataclismas ou destruições em massa, pois o desfecho que nos é mais iminente chegará sem aviso.

Precisaremos estar prontos “para que, vindo de repente, ele não nos encontre dormindo” (Mc 13, 36). 

E isso implica, evidentemente, em dedicar-se diariamente ao verdadeiro desenvolvimento do organismo sobrenatural, para que a alma esteja cada vez mais conforme ao seu fim último; mas, além disso, em conhecer os inimigos que apresentam-se como obstáculos ao pleno desenvolvimento do espírito, para não deixar-se seduzir pelos falsos caminhos que oferecem.

Tais inimigos agem por diversos meios e a partir de diversos lugares, inclusive, desde dentro da própria Igreja, se utilizando de sua estrutura para fazer perder as almas. E nós devemos saber como agir para combatê-los, sem nos deixarmos desviar.

Precisamente por esse motivo, lançamos um curso inédito sobre a crise na Igreja, ministrado pelos professores Mateus Mota Lima e Caio Perozzo, apresentando uma análise prudencial para iluminar nossas ações e decisões nestes tempos difíceis.

E você pode assistir gratuitamente à gravação da aula inaugural do curso, em nosso canal do YouTube. Basta clicar no link abaixo:

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