Existem, hoje, uma variedade incontável de propostas e concepções para o estudo. No entanto, muito se ignora a partir de onde ele deve começar: na linguagem.
Um dos motivos que nos levaram a fundar o Instituto Borborema, em 2015, foi percebermos como clara a situação de crise e degradação intelectual em que o Brasil e todo o mundo se encontravam, já desde muito antes, e se encontram até hoje.
Que há tal crise e tal degradação e que estamos nelas imersos não é novidade.
Por muito tempo, um tempo quase incontável, práticas educacionais vêm sendo inventadas, reinventadas, atualizadas e propostas a milhões e milhões de pessoas, com objetivos variados e diversos, talvez, mas que parecem convergir sempre em um único: afastá-las de qualquer possibilidade de educarem-se verdadeiramente.
A “novidade” que percebemos durante esses anos fazendo nosso trabalho é que, apesar de tudo isso, ainda existem pessoas que estão sedentas por uma verdadeira educação, pelo verdadeiro estudo — e não são poucas.
Mas também não são poucas aquelas que muitas vezes, graças às mesmas propostas, acabam caindo em enganos.
E isso talvez decorra do fato de muitas delas desconhecerem exatamente em que consiste e a que se ordena o estudo.
…a grande luta de todo ser humano é a luta por descobrir a verdade na própria alma.
O verdadeiro estudo não é aquilo que praticamos na escola, na faculdade ou nos cursinhos de línguas. Não é aquilo que fazemos a fim de conseguir aprovação numa prova ou conquistar um certificado, um cargo ou coisas do tipo. Tampouco é aquela nossa leitura sem ordem ou critério de livros que não entendemos, de autores que desconhecemos, mas que parecem belos, estimulantes, enriquecedores…
Tudo isso, a despeito da aparência de estudo, são apenas rebaixamentos do que é o verdadeiro estudo: a busca pelo conhecimento da verdade.
Não se distingue o ser humano dos animais e se aproxima dos anjos exatamente por sua capacidade de conhecer a verdade?
O estudo, então, apresenta-se como meio necessário e indispensável para o conhecimento da verdade em decorrência, sobretudo, da própria natureza humana e da sua desordem, oriunda do pecado original.
Acontece que, em nossos dias, o entendimento acerca do “conhecer a verdade” parece resumir-se apenas em acessar as notícias corretas, ler mais informações e, assim, ter opiniões fortes que possam ser ostentadas e nas quais se possa confiar como infalíveis.
Por óbvio, isso não é conhecer a verdade.
Não à toa, o filósofo Eric Voegelin propunha que a grande luta de todo ser humano é justamente a luta ininterrupta por descobrir a verdade na própria alma para, com ela, resistir à mera opinião.
E é aí, à medida em que essa luta segue sendo travada, que o homem consegue abandonar o estado de passividade ante a recepção da verdade, movendo-se em direção a ela, que está inscrita em sua alma desde a sua criação.
Conhecer a verdade, portanto, consiste em operar ativamente um esforço de fazer com que as informações que se nos chegam através dos sentidos sejam trabalhadas interiormente pelas faculdades verdadeiramente humanas da alma, aquelas das quais nenhum animal ou máquina é capaz de gozar: a inteligência e a vontade.
Por aqui, quando tratamos do estudo e apontamos a sua importância para o desenvolvimento de uma vida minimamente humana, alguns atribuem a nós uma espécie de insensibilidade por, dizem, forçarmos nosso público a submeter-se a fardos desproporcionalmente pesados para as suas circunstâncias, personalidade e interesses.
Mas, ora, qualquer um que inicie na prática da busca real pelo conhecimento da verdade, percebe que ela começa de fato como uma atividade bastante difícil, sofrível e penosa.
E poderia ser de outro modo?
Afinal, esse exercício exige que nos concentremos interiormente sobre alguma verdade, inicialmente bem pequena, e que nos dediquemos por longo tempo, com paciência e constância, a tentar fazer com que a nossa inteligência enxergue o que há de essencial naquilo.
Quando você recebe uma informação, você tem que aprender a focar a sua atenção naquilo dentro da sua alma, o que não pode ser feito olhando para fora, pois exige de fato um recolhimento interior, com a porta dos sentidos fechada.
E você precisa fazer esforço para ver como as coisas realmente são, se utilizando dos dados que estão na sua imaginação e colocando-os a serviço da inteligência e da vontade.
A linguagem é o produto mais próprio e o meio de funcionamento da inteligência.
O conhecimento da verdade, então, se dá quando a inteligência encontra a essência das coisas, de alguma coisa que seja, e você, nesse esforço interior, aprende a não mais se apegar às aparências e à superficialidade e busca enxergar minimamente o que faz com que aquela coisa seja mesma ela e nada mais.
É isso que, em primeiríssimo lugar, se aprende no estudo.
Não por acaso, isso é o que sempre foi praticado no que chamamos Educação Clássica, durante a primeira etapa da educação, a Gramática do Trivium, a partir do momento em que uma criança chegava à idade da razão.
E os primeiros elementos que se buscava conhecer nesse processo eram os que constituem a linguagem humana. Daí que se partisse de textos, sobretudo em poesia no seu mais alto nível.
Só que o texto não é, ele próprio, o fim do estudo, mas o meio material mais adequado a partir do qual essa operação é realizada. E, obviamente, isso não é algo que você automaticamente sabe ou domina. É necessário que alguém lhe ensine.
Mas, então, por que a linguagem era o primeiro elemento a ser considerado e explorado à exaustão nas etapas iniciais da educação?
Ora, porque ela é o modo através do qual a inteligência funciona, inclusive para descrever tudo aquilo que não consiste na própria linguagem.
Todas as realidades, inclusive o céu, o purgatório, o inferno e a própria terra, só podem ser compreendidas, expressadas e comunicadas pelo homem, até onde o seja possível, por meio da linguagem.
Todas as coisas que são ou já foram estudadas não o são ou o foram precisamente a partir da sua representação da linguagem?
A linguagem é um ente mental da alma humana, é o produto mais próprio e o meio de funcionamento da inteligência.
E, como a inteligência é aquela potência que nos distingue dos animais e de todos os seres materiais, quando não a trabalhamos, quando não a colocamos para funcionar — o que, de novo, só pode ser feito com o conhecimento da verdade através da linguagem —, bem…