Todos somos induzidos a uma despersonalização que retira de nós o sentido da vida. É nosso dever encontrar esse sentido, pois um dia a própria vida virá sobre nós com suas perguntas e nos exigirá respostas.
“Eles carecem da consciência de um sentido pelo qual valesse a pena viver. Sentem-se perseguidos pela experiência de seu vazio interior, de um vazio dentro de si mesmos; estão presos na situação que tenho chamado de ‘vácuo existencial’.
O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no século XX. Isto é compreensível; pode ser atribuído a uma dupla perda sofrida pelo ser humano desde que se tornou um ser verdadeiramente humano.
[…] Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer e não há tradição que lhe diga o que ele deveria fazer; às vezes ele não sabe sequer o que deseja fazer. Em vez disso, ele deseja fazer o que os outros fazem (conformismo), ou ele faz o que outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo).
Viktor Frankl, Em busca de sentido
“Ah… fulano tem muita personalidade. É uma pessoa segura, forte; age com força, confiança, integridade…”
Não são poucos os momentos em que somos tomados por pensamentos como esse.
Testemunhamos uma pessoa em pleno exercício da sua natureza, vislumbramos aquelas aparentes virtudes, a integralidade de vida, a força da personalidade e ficamos admirados. Voltando o olhar para nós mesmos, a comparação é, por vezes, inevitável:
Estamos muito distantes daquilo. Quem dera tivéssemos toda aquela personalidade…
Geralmente, uma personalidade é marcante assim quando o conjunto daquela pessoa, ou algum elemento específico do conjunto, se ressalta de maneira a nos encher os olhos. Uma qualidade sua, ou todo o seu modo de ser e de agir, nos desperta a admiração e o desejo de ser daquela maneira.
É natural. Afinal, não queremos ser melhores do que somos?
Todos gostaríamos de ser pessoas que têm firmeza de propósito, que sabem o que querem para si; pessoas ordenadas, que estão à altura dos problemas da própria vida e do próprio tempo.
Acontece que um dos problemas mais característicos deste tempo é que somos empurrados a sermos pessoas mais fracas, inseguras, desconfiadas e relativistas, que buscam somente a desordem e se rendem facilmente aos prazeres e paixões.
E, com esses influxos que sofremos somados à nossa própria parcela de culpa, não percebemos que estamos nos despersonalizando e agindo como os outros, seguindo a corrente, como peixes ao sabor do fluxo do rio.
Assim, sem nos darmos conta, vamos perdendo de vista aquela força que desejávamos para ter maior controle sobre as coisas que se nos acontecem, sobre quem somos e, portanto, sobre a nossa vida.
Resultado: uma deformação da personalidade que aniquila a nossa dignidade enquanto seres humanos, imagem e semelhança de Deus, em virtude de termos, inconscientemente, escolhido uma vida que não está à altura do que é capaz o ser humano.
Era precisamente a isso que Viktor Frankl se referia quando falava no vazio existencial — aquele sentimento oco interior que não permite resposta para as perguntas:
O que eu faço? O que eu quero? Quem eu sou?
Mas essas perguntas precisam ser respondidas — e respostas serão exigidas! Pode ser que a vida ainda não as esteja cobrando, mas ela o fará
A todos chegará o momento em que os questionamentos que a vida nos faz todos os dias, os quais tentamos ignorar, virão sobre nós com toda a sua força, de modo pungente, para nos machucar.
Se até lá ainda não tivermos encontrado as respostas, aquela deformação da nossa personalidade, aquele nosso vazio interior, nos levarão a uma profunda crise existencial.
E ela nos deixará em frangalhos sob o seu tormento.