Sob que critérios poderia orientar-se no mundo e julgar suas próprias escolhas e ações uma pessoa cuja vida não reconhece propósitos?

Se você deseja resolver qualquer problema em sua vida, a primeira coisa que deve ser considerada — e decidida racionalmente — é o seu fim: o fim último.
Isso porque, se você não escolher o fim último e não permanecer com ele como a orientação dos seus atos presentes, o que quer que você faça há de encaixar-se na famosa sentença de Santo Agostinho:
“Corres bem, mas corres fora do caminho.”
Estando numa situação como essa, a pior coisa que pode acontecer é que você “dê certo na vida”, ou seja, que alcance um objetivo que era buscado, como se fosse esse o seu fim último.
Pois, em algum momento, você pode acabar dando-se conta de que aquele não era exatamente o seu fim, não era a conquista daquele objetivo que haveria de proporcionar um real deleite à sua alma. Mas já terá gastado uma vida inteira tentando atingi-lo.
Quando uma pessoa não se deixa conduzir em vistas de um fim árduo, real e concreto — vivendo de momento em momento, de busca irrefletida em busca irrefletida —, ela não tem um critério objetivo para julgar as próprias decisões em área alguma da sua vida presente.
O resultado será que essa seqüência cega de momentos em momentos, de buscas irrefletidas em buscas irrefletidas, não gerará outra coisa senão saltos perpétuos de erros em mais erros e frustrações em mais frustrações.
Representação da virtude da prudência no Tímpano das Virtudes (afresco de Rafael Sanzio na Stanza della Segnatura, Vaticano).
Portanto, a decisão consciente do fim a ser perseguido é fundamental para qualquer vida minimamente humana.
Na ausência disso, torna-se impossível o desenvolvimento estrutural das virtudes, que é capitaneado pela prudência — exatamente a virtude que ordena todas as coisas ao fim último.
Sem o desenvolvimento da prudência, não há possibilidade de desenvolver virtude alguma e, conseqüentemente, de se ter uma vida realmente humana.
Uma vida com propósito é uma vida que se dirige e se aproxima diariamente do seu fim último.