Confuso e desconfiado

Há muito tempo, percebeu-se que, para que se possa destruir as estruturas que sustentam o mundo como conhecemos, não basta apenas convencer as pessoas de que elas são escravas de um sistema opressor. É preciso muito mais.

No último texto que publicamos, nós começamos a falar sobre a loucura geral do nosso tempo e sobre como ela se diferencia de tudo o que já houve na história, em muito, graças à existência de um elemento exclusivo da nossa época: o sujeito de consciência crítica.

E ele não é mais do que um produto tardio do marxismo.

Quando Karl Marx levantou sua crítica ao capitalismo, ele declarou que o que mantém a esfera de opressão, o status quo, é não só a infraestrutura material — homens, máquinas, empregados etc. —, mas a existência de uma superestrutura por trás dela que lhe dá toda a legitimação moral.

Hoje, nós bem sabemos que essa superestrutura compreende aqueles três elementos que conhecemos como pilares da civilização ocidental: a filosofia grega, a moral cristã e o direito romano.

Depois de Marx, cada um dos seus sucessores aproveitou-se da sua práxis, isto é, dessa idéia de que há uma superestrutura, um status quo que precisa ser destruído, e a desenvolveu de outras formas. Afinal, as previsões de Marx acerca do capitalismo não se demonstraram adequadas.

Daí que muitos tenham focado, então, não mais em destruir as estruturas econômicas, como desejava Marx, mas em destruir essa superestrutura como um todo, ou ao menos partes dela. E eles entenderam que, para fazê-lo, não bastava convencer as pessoas de que elas continuarão pobres, escravas do sistema etc., porque isso não funcionava mais.

O que seria preciso fazer, então? Simples: criar confusão e desconfiança — de maneira total e absoluta. Para isso, era preciso dominar a mente das pessoas, esvaziar a sua imaginação e preenchê-la com um novo substrato. E existem diversas formas de se fazer isso, como podemos perceber em basicamente todas as áreas do conhecimento.

Não deve ser difícil perceber, ao menos para nós, que todos os frutos podres que nós estamos colhendo hoje foram semeados pelas mentes daquelas pessoas.

Mas, como dizíamos, a chave estava nas mentes. Fato é que não existe vácuo no coração do homem, não existe vazio na nossa imaginação — e eles parecem ter entendido isso.

Quando uma pessoa vive no Ocidente, por exemplo, e tem contato com os feitos do Cristianismo, com a arte das catedrais, com a música barroca, com Os Lusíadas, no caso do Brasil, ela percebe que há muitas coisas sublimes na história humana e que ela também faz parte disso.

Esse sentimento de pertença faz com que nós nos orgulhemos de estar onde estamos, de fazer parte de uma grande história, e reconheçamos as grandes almas que nos antecederam. Aí, em vez de nos encher de confusão e desconfiança, isso nos dá um rumo e alimenta a nossa confiança.

Então, qual é o truque?

Simples também: vamos fazer as pessoas simplesmente não saberem onde estão. Vamos dizer que os portugueses vieram ao Brasil movidos apenas por interesses escusos, para roubar o ouro dos índios. Vamos dizer que um pai e uma mãe não existem para inserir o filho no mundo, auxiliá-lo no contato com a realidade, naquilo que ele ainda não tem condição de compreender, mas que são figuras de opressão que impedem o desenvolvimento livre da criança, que a impedem de ter contato com outras visões de mundo, que desenvolva seu “senso crítico”.

E assim, criam uma amontoado de imagens falsas nas cabeças das pessoas, não permitindo que haja espaço na imaginação para nada além de confusão e desconfiança.

Agora está pronta, então, a receita para a construção da tão cobiçada “consciência crítica”, que transforma qualquer sujeito em um grande pé-no-saco: tudo critica, tudo odeia, tudo relativiza e nada suporta.

E ele é o elemento mais indispensável para toda aquela loucura de que falávamos.

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