No roteiro de vida moderno, segundo o qual todos devem viver como animais, correndo em direção à satisfação dos seus prazeres, não há espaço para os bens árduos, que muito exigem para que possam ser desfrutados.
Talvez um dos sintomas mais claros da crise moral, intelectual, espiritual e até civilizacional dos nossos tempos seja a busca cega por soluções rápidas, fáceis e indolores para qualquer problema na vida.
O estilo de vida contemporâneo nos inspira fraqueza e nos induz a desejar o prazer e a satisfação em bens fáceis, efêmeros, e que evaporam com a mesma facilidade com que são obtidos.
Ao mesmo tempo, nos faz temer e odiar tudo o que dói, que é árduo, difícil, mas que, por isso mesmo, é permanente e duradouro.
Ora, se formos analisar a nossa vida por inteiro, quantos bens de que já pudemos gozar verdadeiramente prescindiram de sofrimento para alcançá-los?
Quantas alegrias reais e duradouras obtivemos sem dor, suor e sacrifício?
O transbordamento de alegria na alma após o nascimento de um filho surge genuinamente, se não em razão do assentimento à missão de doação e sacrifício por aquela vida frágil e indefesa?
O êxtase no coração de um marido ao ouvir o “sim” de sua esposa no altar é pleno sem estar acompanhado da disposição total de aceitar tantas dores quantas a vida impuser em seu caminho, de entregar-se até a morte em benefício da sua amada?
Como disse Viktor Frankl:
“Se há um sentido em tudo na vida, então deve haver um sentido no sofrimento. O sofrimento é uma parte indelével da vida, mesmo que o destino seja a morte.”
Não há vida, ao menos plena, onde não há dor, onde não há sofrimento.
E, como também dizia Frankl:
“Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida”.
Quando temos a consciência de um fim a ser alcançado com a vida, a dor, que é inevitável, se torna um combustível para superar tudo.